Traduzida pelo neto, Pr. Helmuth Matschulat
Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. A quem tiver sede darei de beber, gratuitamente da fonte da água da vida. (Apocalipse 21:6)
Sou o 3º filho de Henrique Matschulat e de sua esposa Luise Henriette, que moravam na localidade de Kussen [1], região de Pylkalen, Prússia Oriental.
Meus irmãos são: Frederik, Ludwig, Henrique e Otto. Em outubro de 1860 meus pais mudaram de Kussen para Eydtkunen[2], região de Stallupönen, Prussia Oriental. O meu tio, Johann Brandt, irmão de minha mãe, havia acompanhado a empresa que na época construía a via férrea de Berlim a Petersburgo, na Rússia. O tio Johann conseguiu um bom emprego na mesma empresa para o meu pai, inclusive uma boa casa, na qual moraram por cerca de 40 anos. Meu pai cresceu na empresa, ocupando cargos de responsabilidade, com boa remuneração.
Meus irmãos, Frederico e Ludwig cresceram na vida profissional, conseguindo a sua independência financeira. E eu, com apenas nove anos de idade, fui ganhar a minha mesada, trabalhando numa leiteria. O trabalho consistia em fazer a limpeza dos estábulos, cuidar das vacas no pasto, e principalmente tomar conta dos bezerros. Fiquei cinco anos neste emprego. Com isto fui prejudicado na minha vida escolar. Em regra o meu trabalho começava as 4 horas da manhã, indo até as 10 h da noite. Foi um trabalho penoso. Mas graças a Deus, nunca passei fome, o que era comum para muitos naqueles dias.
Ao completar 14 anos, o meu pai começou a falar comigo sobre profissão. Sugeriu que fosse professor. Gostei da ideia. Deveria, lógico, recuperar o tempo de escola perdido. A minha mãe, entretanto, ponderou, que o curso seria muito caro e levaria anos, e a remuneração, argumentava, não era lá aquelas coisas. Meu pai procurou então uma vaga para aprendiz em marcenaria ou serralheria. Mas naquele tempo as vagas eram muito escassas. A agricultura passava por uma crise e as fábricas de móveis não tinham encomendas.
Surgiu uma vaga numa fábrica de calçados e também de celas para montaria. Dado a minha altura, a profissão não foi própria para mim. Tive, realmente, problemas pulmonares.
No ano de 1870 veio a guerra entre Alemanha e França. Fui convocado para o serviço militar. Servi nos anos de 1873 a 1876. Servi no quartel de Eydtkuhnen, Stullupönen e Königsberg. Concluído o período de preparo como soldado combatente, o Exército me colocou no serviço de sapateiro. Fabricamos botas para os soldados. Em Königsberg fui também designado para a casa do renomado filósofo Immanuel Kant, na Rua Príncipe, Nº 3. Ali consegui estudar e crescer nos meus conhecimentos.
Foi nesse tempo que vim conhecer uma moça singular, Luise Henriette Hellfesteller. O seu pai era militar. Mais tarde Luize veio ser a minha querida esposa. Foi também no 2º ano do serviço militar que tive a mais impressionante e emocionante experiência de minha vida: A minha conversão a Cristo. Custou vencer algumas lutas e dúvidas. Mas no dia 14 de Janeiro de 1876 encontrei a paz no Senhor Jesus Cristo. No dia 6 de fevereiro do mesmo ano, fui batizado na Igreja Batista, situada na rua Schmidt, 17, em Berlim, pelo pastor José Lohmann.
A alegria da minha salvação contagiou a minha noiva, e ela, com mais outras jovens, também foi batizada no mês de abril de 1876. No dia 10 de novembro do mesmo ano, casamos e ficamos residindo em Eydtkuhnen.
No ano de 1880 mudamos para Kowno, capital da Lituania, com o casal de filhos, Eliza e Frederico, onde moravam os meus pais. Filiamo-nos ali a Igreja Batista. Os cultos eram realizados principalmente na língua russa e lituana e às vezes com tradução para a língua alemã. Eu sempre me interessei pela música, pelo coral e principalmente pelo estudo.
No ano de 1892 recebemos uma consulta de um grupo de convertidos que estava surgindo no longínquo sul do Brasil. Foi algo surpreendente para nós. Como é que uma família com nove filhos poderia se aventurar para uma mudança para tão longe? Oramos, meditamos, fizemos cálculos, consultamos possibilidades e passamos a sentir alegria e confiança. A notícia se espalhou na igreja e tivemos total apoio. O impossível começava a se tornar possível. Em outubro de 1893 já havíamos atravessado o grande Oceano Atlântico e chegamos a Linha Formosa, região colonial, no município de Santa Cruz. No dia 5 de novembro de 1893 foi organizada a Igreja Batista da Linha Formosa, com 45 membros e fui empossado como pastor. No ano de 1907 fui convidado para prestar assistência a um novo grupo que se organizou em Igreja na capital do Estado, Porto Alegre. Ali consegui no ano de 1914 um emprego no Banco Transatlântico, onde trabalhei até o ano de 1927, obtendo então uma modesta aposentadoria. A Deus a minha gratidão e o louvor.
Nova Würtenberg (Panambí), 1938)
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[1] Atualmente Vesnovo (ou Wernowo), Oblast de Kaliningrado, Rússia.